Diccionario Biográfico de los ferrocarriles ibéricos
Dicionário biográfico dos caminhos-de-ferro ibéricos 

Cândido Xavier Cordeiro

Cândido Xavier Cordeiro (1844-1905). De nome completo Cândido Celestino de Xavier Cordeiro, nasceu em Torres Novas em 1844 e em 1855 matriculou-se na Universidade de Coimbra nas faculdades de matemática e filosofia, terminando os seus estudos em 1861, após o que decidiu inscreve-se na Escola do Exército de Lisboa donde saiu em 1863 com o curso em engenharia. Durante os anos em que esteve na escola do Exército frequentou as cadeiras de botânica e economia política da Escola Politécnica de Lisboa.
Em 31 de Agosto de 1863 entrou para Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria (MOPCI), sendo colocado na Direcção das Obras Publicas do distrito de Castelo-Branco e depois transferido para Coimbra.

Em 1864 Candido Xavier candidatou-se a uma das bolsas de estudo para frequentar a École des Ponts et Chaussées de Paris (EPC) tendo ficado em primeiro lugar. Nos anos que esteve na EPC Xavier Cordeiro teve como colegas os franceses Alfred Picard, «destinado a ser Picard, o grande», Guillain, que viria a ser Ministro das Colónias, e Agnellet, futuro engenheiro-chefe das obras do Norte de França.

Fotografia Cândido Celestino Xavier Cordeiro. Fonte: A. Luciano de Carvalho (1905), Cândido Xavier Cordeiro. Elogio Historico. Lisboa: Imprensa Nacional, s/p.

No final de cada ano, os alunos tinham de realizar uma missão de estudo, e elaborar um relatório sobre os seus realizados, que, no caso dos alunos portugueses, tinham também de ser apresentados ao MOPCI. No final do primeiro ano de formação, Cândido Xavier Cordeiro efectuou uma visita de estudo a Grenoble e ao departamento de Isère.  No segundo ano, deslocou-se a Marselha e, no terceiro ano, visitou os caminhos-de-ferro de Rennes e Nantes, notáveis pelos seus belos viadutos de alvenaria em Gouet, Morlaix e Châteaulin, e pelos seus percursos em terrenos acidentados muito semelhantes aos do nosso país.
Em 1867, estando em Paris, foi encarregado pelo governo de estudar o material fixo e circulante dos caminhos de ferro na Exposição Universal realizada nessa cidade.
Em Julho de 1868 Cândido Xavier Cordeiro regressou a Portugal e voltou a ocupar o seu posto em Coimbra. Em 1872 foi requisitado para dirigir na linha do Minho a secção compreendida ente a margem direita do rio Ave e o extremo do ramal de Braga e depois a  secção desta linha de caminho de ferro de Tamel a Viana, onde se teriam de construir importantes “obras de arte” como: o túnel de Tamel, subterrâneo e com cerca de um quilometro de extensão; o Viaduto de Durães, com 180 metros de extensão e 22 metros de altura; e a Ponte sobre o rio Lima, com dez grandes tramos de 60 metros,  onde aplicou pela primeira vez em Portugal  pelo sistema iniciado na ponte de Kehl, que este engenheiro conhecia por ter visitado a ponte de Kehl em 1867 quando estava na EPC.
Em 1877, por Portaria de 20 de Outubro, foi nomeado para a comissão encarregada de proceder à provas da ponte Maria Pia, necessárias para a abrir à circulação. Dois anos, por despacho de 28 de Julho, foi indigitado para a Junta Consultiva de Obras Públicas e Minas. Em 1879 foi nomeado pelo Ministério da Marinha e Ultramar representante do governo no contracto celebrado com um grupo de capitalistas ingleses que pretendiam realizar obras de melhoramento do porto de Mormugão e construir um caminho de ferro na mesma região. Em Agosto 1880, recém chegado da India, Xavier Cordeiro foi nomeado relator da Comissão que devia analisar as propostas apresentadas para a construção da ponte D. Luiz e eleger a que mais conviesse, tendo a construção da ponte sido adjudicada a Teófilo Seyrig.
Tendo sido aprovados por decreto de 1 de Setembro de 1881 os projectos do caminho de ferro e do porto de Mormugão, Cândido Xavier Cordeiro foi nomeado, por decreto de 9 desse mesmo mês, para representar o governo na conferencia que teve lugar em Londres e onde se deviam definir os aspectos técnicos relativos ao caminho de ferro. Pouco depois foi nomeado director das obras publicas da Índia, tendo como funções a organização do plano geral das estradas, do caminho de ferro e outras que se realizassem.
Em 1885 Cândido Xavier Cordeiro passou a trabalhar para a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses. Durante o tempo em que esteve nesta Companhia Xavier Cordeiro o trabalho das pontes sobre o Mondego e sobre o rio Soure; do viaducto de Oeira; dos vários viaductos e pontes na linha da Beira, como a ponte sobre o Tejo em Abrantes; e o viaducto de S. Pedro, que na altura era a obras mais alta do caminho de ferro. Dirigiu também os trabalhos de construção do túnel que foi necessário construir para que o caminho de ferro chegasse até ao Rossio e que foi um obras particularmente complicada. Como representante desta Companhia participou no Congresso de Internacional de caminhos de ferro que ser realizou em Paris por altura da Exposição Universal desse ano.
Para além dos trabalhos ligados com os caminhos de ferro, Cândido Xavier Coreiro, fez parte da comissão de engenheiros encarregada de elaborar um projecto de melhoramentos deste porto (1885).
Ao longo da sua vida foi chamado por entidades públicas de privadas a dar parecer sobre várias obra, como foi o caso da Sociedade de Recreios Lisbonense, que em 1888 lhe solicitou um parecer sobre as propostas da empresa belga Nicaise & Deleuve situada em La Louvière e da empresa Hein Lehmann & C.ª de Berlim para a construção da cúpula de grandes dimensões que pretendia instalar no Coliseu em Lisboa. O relatório apresentado por Cândido Xavier demonstrou a superioridade do projecto alemão e a cúpula que se instalou no edifício foi importada da Alemanha.
Com a utilização mais sistemática do ferro na construção de “obras de arte” do caminho de ferro e das estradas portuguesas foi necessário actualizar o regulamento que estipulava as regras a que deviam obedecer estas construções e que datava de 1863. Em finais do século XIX este regulamento estava desactualizado, razão porque, em 5 de Janeiro de 1895 foi nomeada uma comissão, que integrava nomes reconhecidos da engenharia portuguesa, como era o caso de Cândido Xavier Cordeiro, que foi incumbida de redigir novas instruções para a construção e fiscalização, vigilância e conservação das pontes metálicas existentes no país.
Em 1896 foi nomeado por decreto de 6 de Outubro membro da comissão que devia realizar os estudo de um plano de viação acelerada no norte do Mondego e no Sul do Tejo.
Por decreto de 20 de Maio de 1903 foi nomeado vogal efectivo do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas. Mesmo durante os anos que esteve neste conselho continuou a ser nomeado para várias comissões como a comissão destinada a estudar o estabelecimento de um porto em Buarcos, nomeada por Portaria de 17 de outubro de 1904. Por Portaria de 22 de se Julho foi nomeado inspector dos edifícios públicos.
Sócio fundador da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses em 1895 foi eleito presidente da mesma e assíduo colaborador da Revista de Obras Públicas e Minas, órgão oficial desta Associação.
Foi também consultor da Gazeta dos Caminhos de Ferro de Portugal e Espanha, onde publicou numerosos artigos.
Cândido Celestino Xavier Cordeiro, que faleceu em 1904, foi sem dúvida um exemplo do papel que os engenheiros tiveram no desenvolvimento do caminho de ferro e na modernização de várias outras infraestruturas territoriais. O trabalho que desenvolveu ao longo da sua vida fizeram dele um exemplo do escol de engenheiros que pela sua acção ao longo da segunda metade do século XIX contribuíram para a firmação da engenharia portuguesa. É também um exemplo dos engenheiros que se integraram no espaço supranacional da École des ponts et chaussés, que facilitou a mobilidade de engenheiros e a transferência de saberes e tecnologias associados à engenharia civil.

 Ana Cardoso de Matos

Bibliografia

CARVALHO, Augusto Luciano de (1906) “Elogio Histórico de cândido Xavier Cordeiro” Revista de Obras Publicas e mInas, tomo XXXVIII, nºs 442-444, Outubro/Dezembro.
CARDOSO DE MATOS, Ana (2010) «Etudier en France, travailler au Portugal : le cas de l’ingénieur Cândido Xavier Cordeiro (seconde moitié du XIXe siècle) ». In Robert Carvais, André Guillerme, Valérie Negre, Joël Sakarovitch, (ed.) Édifice & artifice. Histoires constructives. Paris : Editions A. et J. Picard, 231-240.
CARDOSO DE MATOS, Ana (2023) “Reasons and achievements of the mobility and professional activity of portuguese engineer Cândido Celestino Xavier Cordeiro (1842-1905)”. Quaderns d’Història de l’Enginyeria, volum XXI 2023, 309-334.
PEREIRA, Hugo Silveira; KERR, Ian J. (2019) «Railways and Economic Development in India and Portugal: The Mormugão and Tua Lines Compared, ca. 1880 to ca. 1930, and Briefly Onwards». Revista Brasileira de História, 39:81, 209-234.